top of page

Canário: como ser gay e cristão na África do Sul?

Foto do escritor: Miguel BarbieriMiguel Barbieri

Schalk Bezuidenhout interpreta Johan: cantor de um coral do Exército (foto: divulgação)


Não me lembro de ter visto nenhum filme sobre a Guerra Sul-Africana na Fronteira, conflito que envolveu a África do Sul com Namíbia e Angola, entre 1966 e 1989. Canário, disponível no Amazon Prime Video, tem a guerra como pano de fundo e centra foco no despertar de um personagem homossexual. São dois temas que parecem antagônicos, mas há um casamento muito oportuno entre eles.


A primeira cena é deliciosa. Em 1985, Johan (Schalk Bezuidenhout) se veste de noiva e desfila pelo bairro de sua cidade, no interior da África do Sul - e ao som de Smalltown Boy, do Bronski Beat!


Sabemos que Johan é gay, mas será que ele está confortável em assumir sua orientação sexual? Com pais conservadores, num país sob o regime do Apartheid e o peso da religião evangélica, Johan tenta disfarçar seu interesse por homens após ser convocado para integrar o coro dos Canários, grupo de rapazes cristãos que faz apresentações para os familiares dos soldados em guerra.


O treinamento e ensaios são realizados numa base aérea do Exército e, lá, Johan vai encontrar chefes linha-dura e amigos com os mesmos gostos musicais, como Grace Jones, Cindy Lauper, Depeche Mode e, sobretudo, Boy George (vocalista do Culture Club), a grande fonte de inspiração de Johan e também ídolo de Wolfgang (Hannes Otto).


Assumir o amor por alguém do mesmo gênero, aos 19 anos, em meados dos anos 80, não era fácil, principalmente em países que cerceavam qualquer tipo de liberdade. E é essa a questão que envolve o protagonista de Canário: como ser cristão e não relacionar homossexualidade à perversão?


A homenagem a Boy George é linda e os números musicais enchem os olhos na direção afiada do sul-africano Christiaan Olwagen. O registro do realizador, também autor do roteiro, tem uma boa carga dramática, porém é desenvolvido em situações de humor cativante.


Vale o aviso: a maioria dos personagens fala africâner, um ramo da língua germânica, que, para os desavisados (com eu), podem confundir com o alemão.



Comments


Commenting has been turned off.

© 2023 por Miguel Barbieri

bottom of page