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Caso Richthofen: filmes só cumprem o que prometem


Carla Diaz e Leonardo Bittencourt: versão de Suzane e de Daniel Cravinhos para os assassinatos


Li comentários positivos e negativos sobre O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais, lançados no Amazon Prime Video. Não sei o que as pessoas que criticam esperavam dos dois filmes sobre o Caso Richthofen, já que, desde o início do projeto, era sabido que seriam duas versões - uma do ponto de vista de Suzane e outra sob a ótica de Daniel Cravinhos. E é apenas e exatamente isso que se encontra nas produções.


Seguindo a sugestão de Raphael Montes, autor dos roteiros ao lado de Ilana Casoy, comecei por O Menino e, logo na sequência, vi A Menina. Ambos começam e terminam do mesmo jeito - abrem com a chegada da polícia após os assassinatos de Manfred e Marísia e, na derradeira cena, como ocorreu a execução dos pais de Suzane. No dia do julgamento, Suzane dá sua versão (em O Menino) e Daniel responde à sua maneira em A Menina.


Primeiro: acho a proposta de dois filmes muito interessante. Segundo: gosto da forma como os roteiristas trabalham praticamente as mesmas cenas, só que com visões opostas dos criminosos. Quem ofereceu maconha para quem? Suzane perdeu a virgindade com Daniel? Os pais dela bebiam muito e humilhavam o namorado? Ela foi abusada pelo pai? Suzane custeava Daniel ou ele pagava as próprias contas? E a pergunta que não quer calar: foi Daniel quem planejou os assassinatos por ser um interesseiro alpinista social ou foi Suzane, que cansada de ser maltratada em casa, pediu ao namorado que matasse Manfred e Marísia? Eis aí a grande sacada da proposta: não se sabe quem mente e quem fala a verdade. O veredito fica por conta do espectador.


Por ser uma produção visivelmente modesta, até que o diretor Mauricio Eça tira leite de pedra. Por isso, dê um desconto para a peruca e a maquiagem fora do tom de Suzane no tribunal e saboreie os posicionamentos de câmera que Eça faz ao contar a mesma história sob ângulos distintos - repare na sequência do parque de diversões em que até um importante diálogo (sobre a pousada) entre Suzane e Daniel é diferente nas duas versões.


E as atuações? Os veteranos estão ótimos: Leonardo Medeiros e Vera Zimmermann (pais de Suzane) e Augusto Madeira e Débora Duboc (de Daniel e Christian). Muitos estão comentando sobre a interpretação de Carla Diaz, que transforma a garota ingênua de O Menino numa manipuladora com olhar de psicopata em A Menina. Eu acho que falta sutileza. Prefiro Leonardo Bittencourt, que muda muito pouco de um filme para o outro.


Embora os dois filmes sigam exatamente pelo mesmo caminho, gostei mais de O Menino que Matou Meus Pais, talvez pelo modo mais sensato e menos caricato de explorar o caso. Mas acho que a versão de A Menina que Matou os Pais deixa transparecer mais a verdade. Será?


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