A Separação: filme iraniano vencedor do Oscar
Eu comecei trabalhar como crítico de cinema na Veja São Paulo no início de 2000 e ainda não havia o sistema de dar estrelas para os filmes, que foi criado três anos depois.
Os critérios eram MUITO rigorosos. Meu editor me dizia que, para ganhar a nota máxima, só quando um Bergman ou um Fellini voltassem ao cartaz. Por isso, durante muito tempo, me senti "tolhido" em dar cinco estrelas, mesmo para um filme que tivesse me encantado.
Aos poucos, fui conquistando confiança e mais longas-metragens ganharam a maior nota. Tentei (e acho que consegui) me lembrar de (quase) todos os filmes que, nestes quase vinte anos, foram contemplados com minha avaliação para lá de positiva. Eles estão na lista por ordem cronológica de lançamento - e não por preferência.
As Invasões Bárbaras (2003) > Dirigido pelo canadense Denys Arcand, o drama mostra a reunião de Remy com seu filho, a ex-mulher e velhos amigos, já que está à beira da morte. Uma comovente reflexão sobre a vida em meio a conflitos íntimos e pessoais. Onde assistir: sescsp.org.br/cinemaemcasa (grátis)
O Segredo de Brokeback Mountain (2005) > Me lembro que a sessão para a imprensa foi feita num feriado e saímos todos completamente atônitos com a beleza e a delicadeza com que o diretor Ang Lee tratou o romance secreto entre os caubóis interpretados por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. Onde assistir: Netflix e Star+
A Separação (2011) > Já tinha adorado Procurando Elly, o filme anterior de Asghar Farhadi, mas aqui o diretor iraniano se superou. A trama é um redemoinho de emoções e conflitos sobre um casal que está em vias de se separar. Não à toa, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Onde assistir: Globoplay e Reserva Imovison
Gravidade (2013) > Eu já daria cinco estrelas só para a sequência inicial, feita num fabuloso plano-sequência. Mas o diretor mexicano Alfonso Cuarón vai além e capricha na realização desse drama espacial sobre uma astronauta (Sandra Bullock) que tenta voltar à Terra em meio a angustiantes contratempos. Vencedor de seis prêmios no Oscar, incluindo melhor direção e fotografia. Onde assistir: HBO Max, Netflix e Globoplay.
A Grande Beleza: a vida de Jep Gambardella
A Grande Beleza (2013) > O personagem Jep Gambardella, interpretado por Toni Servillo, já virou um ícone do cinema pela sinceridade com que encara a vida aos 65 anos de idade. Em sua crônica demolidora sobre a decadência da alta sociedade de Roma, o diretor italiano Paolo Sorrentino realizou um dos mais afiados registros a respeito sobre as mazelas da vida. Oscar de melhor filme estrangeiro! Onde assistir: MUBI e Looke (aluguel).
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014) > Saí extasiado da sessão, sobretudo pela maneira com que o diretor mexicano Alejandro G. Iñárritu conduz uma trama frenética, realizada em vários planos-sequência. O ator interpretado por Michael Keaton é um fracassado que tenta voltar aos holofotes numa peça da Broadway. Levou, entre outros, os Oscars de melhor filme, direção e roteiro original. Onde assistir: Star+, MUBI e Amazon Prime (sem legendas em português)
Filho de Saul (2015) > Gosto de filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, mas não tinha visto nada parecido como esse excepcional drama húngaro, que ganhou o Oscar de filme estrangeiro. Num plano-sequência de tirar o fôlego, o diretor László Nemes “arremessa” o espectador no campo de concentração de Auschwitz e segue o judeu Saul, que ajuda os nazistas a levar os prisioneiros para a câmera de gás. Onde assistir: Google Play, NOW/Claro (aluguel).
La La Land: musical repleto de referências
La La Land (2016) > Vi cinco vezes o esplêndido musical comandado por Damien Chazelle porque o considero uma das mais belas homenagens ao cinema. Do romance entre Mia e Sebastian (Emma Stone e Ryan Gosling), despontam referências a vários clássicos. Fiquei igualmente boquiaberto com a união da trilha sonora com as coreografias, que casam perfeitamente aos números musicais. Levou seis prêmios no Oscar, incluindo melhor direção, atriz (Emma) e canção, para a memorável City of Stars. Onde assistir: Streaming do Telecine.
Dunkirk (2017) > Em seu melhor filme (na minha opinião), Christopher Nolan tem um trabalho notável trabalho de direção e montagem, dando três pontos de vistas sobre a Batalha de Dunquerque, como ficou conhecido o episódio da II Guerra, ocorrido em 1940. Encurralados pelos alemães na França, cerca de 400 mil soldados esperam para ser resgatados pelo mar. São três ações intercaladas, que se passam em tempos distintos: uma semana, um dia e uma hora. Onde assistir: Netflix, Looke e AppleTV (aluguel).
Roma (2018) > Era a grande esperança da Netflix, que produziu o longa-metragem, mas, no Oscar, só faturou os prêmios de direção, fotografia e filme estrangeiro. Tem gente que acha lento e aborrecido. Eu amo! O realizador mexicano não faz concessões para contar, no seu ritmo e em preto-e-branco, sua infância ao lado dos pais e, sobretudo, acompanhado da babá e empregada da casa, num bairro de classe média na Cidade do México, dos anos 70. Onde assistir: Netflix
Era uma Vez em Hollywood (2019) > Acho que 2019 foi o melhor ano do cinema recente. Não à toa, os dois filmes abaixo também ficaram entre meus preferidos e concorreram ao Oscar. Tarantino embarca em 1969 para mostrar a amizade entre um ator decadente (Leonardo DiCaprio) e seu amigo e dublê (Brad Pitt) e, com uma ponta de realidade, dá sua versão para a história da atriz Sharon Tate. Onde assistir: Amazon Prime
Coringa: fabulosa atuação de Joaquin Phoenix
Coringa (2019) > Não é só a fabulosa atuação de Joaquin Phoenix, vencedor do Oscar, que impressiona. O diretor Todd Phillips faz um registro perturbador sobre o antagonista de Batman, abusando da violência e promovendo uma crítica da fama a qualquer preço. A Gotham City virou a Nova York do início da década de 80, tomada pela sujeira, cinemas pornôs e punguistas. É daqueles filmes que vão permanecer por anos na memória. Onde assistir: HBO Max.
Parasita (2019) > O grande (e merecido) vencedor do Oscar 2020 conquistou algo inédito ao faturar os prêmios de melhor filme e melhor filme internacional. Com um roteiro formidável, o sul-coreano Bong Joon-Ho enfoca os contrastes sociais de seu país a partir de uma família pobre (e muito esperta) que, aos poucos, se infiltra como empregados na casa de um casal de ricaços. Onde assistir: Streaming do Telecine, Looke, AppleTV e NOW/Claro (aluguel)
Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (2020) > Em sua estreia na direção, a atriz Bárbara Paz fez um documentário atípico. Para registrar a vida e a carreira de Hector Babenco, com quem viveu de 2007 até a morte do cineasta, em 2016, ela usa cenas dos longas-metragens do diretor e momentos íntimos ao lado do marido. Ainda ilustra seu filme com belas imagens feitas especialmente para o filme, rodado em preto-e-branco. Onde assistir: Looke e NOW/Claro (aluguel)
Nomadland (2020) > Deu tempo de incluir o grande vencedor do Oscar 2021, que levou os prêmios de melhor filme, direção (Chloé Zhao) e atriz, para Frances McDormand. A estrela contracena, na maior parte da história, com personagens reais para mostrar a desilusão que se abateu sobre o Oeste americano após o esvaziamento de uma cidade. Estreia do Streaming do Telecine.
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