
Virginie Efira interpreta Benedetta: milagre e sexo
Desde que foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, em julho de 2021, Benedetta coleciona polêmicas. O filme está disponível no Globoplay para assinantes do Telecine.
O diretor holandês Paul Verhoeven (de Instinto Selvagem e Elle) se baseou no livro Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy para escrever o roteiro. Não li o livro, mas nota-se uma liberdade artística logo de cara. Personagem real, a italiana Benedetta Carlini viveu entre 1590 e 1661 e a epidemia da Peste Negra, pano de fundo da trama, ocorreu em meados do século 14. Há motivos para a doença estar ligada à personagem e à trama, conforme dá a entender os fictícios letreiros finais.
Verhoeven é um provocador de 83 anos e aqui cutuca a Igreja Católica com vara curta - e desde as primeiras sequências. Benedetta é levada ainda menina para o convento de Pescia e a Madre Superiora (Charlotte Rampling) negocia o "dote" da garota com o pai dela. Servir a Deus é um business?
Anos depois, já adulta e na pele de Virginie Efira, Benedetta virou uma freira dedicada e tem sonhos excêntricos com Jesus. A chegada de Bartolomea (Daphne Patakia) vai atiçar seus desejos sexuais.
Enquanto cresce sua reputação como milagreira, Benedetta gosta de sentir prazeres até então impensáveis. No momento mais controverso, ela é masturbada com uma estátua de madeira da Virgem Maria. Já vimos filmes igualmente provocativos, como Je Vous Salue Marie, de Godard, e A Última Tentação de Cristo, de Scorsese. Benedetta é só mais um a propor uma reflexão: se não fossem os dogmas da Igreja, um religioso não poderia ter prazeres carnais?
Tem gente que vai odiar e se sentir desrespeitado. Não me senti ofendido. Gostei da proposta, da abordagem, até sutil para os padrões de Verhoeven, e de como a história se encaminha, entre o drama religioso profano e o voluntário humor sarcástico.

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