Ana na adolescência em A Noite do Fogo
A Noite do Fogo, que está na Netflix, foi a escolha do México para o Oscar 2022. Ficou entre os quinze pré-finalistas, mas descartado na reta final. Já imaginava. É um bom filme, premiado em festivais internacionais, mas que tem um apelo restrito.
Ao invés de explicitar a violência dos cartéis de drogas contra a população de um "pueblo" nas montanhas mexicanas, a diretora Tatiana Huezo prefere o ponto de vista infantil e, em seguida, a ótica de três adolescentes. O terror e o medo existem, só que de maneira introspectiva.
Ana é a protagonista, interpretada na infância pela ótima Ana Cristina Ordóñez González. O pai saiu da perigosa região e nunca mais voltou. A mãe dela é quem sustenta a casa trabalhando nos campos de papoulas cujo suco espesso se produz o ópio. Maria e Paula são suas melhores amigas e as mães delas vivem nas mesmas condições.
Na adolescência, as três vivenciam o perigo mais de perto, já que passam a ser cobiçadas pelos traficantes, que sequestram mocinhas, com certa frequência - o filme é baseado no livro Reze pelas Mulheres Roubadas, de Jennifer Clement.
A realização de Tatiana tem, claro, uma ótica feminina. Os homens são coadjuvantes, porém importantes na formação das garotas, seja na figura de dois professores ou de um peão de rodeio, que trabalha para o tráfico e é aliado da polícia militar. Dessa confusão estrutural nascida entre "bandidos" e "mocinhos", quem sai perdendo são as mulheres honestas e batalhadoras. É assim no México, é assim no Brasil.
E por falar em Brasil, o elenco, por sinal excelente, foi preparado pela brasileira Fátima Toledo.
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