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Não Olhe para Cima: a sátira catártica do aqui e agora


Cate Blanchett e Tyler Perry interpretam os apresentadores de TV que recebem os cientistas (Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence)


O diretor Adam McKay começou a carreira no cinema com comédias do gênero besteirol, como O Âncora, Quase Irmãos e Os Outros Caras. Em A Grande Aposta (2015) e Vice (2018), politizou o humor. Mas seu melhor momento, na minha opinião, é em Não Olhe para Cima, que estreia na Netflix na sexta (24).


O humor predomina numa sátira sobre o mundo de agora. Você encontrará semelhanças com o que ocorre no Brasil e em outras partes do mundo. Tudo começa com a descoberta de um cometa vindo em direção à Terra, que foi feita pela jovem Kate (Jennifer Lawrence). Ela avisa o astrônomo Randal Mindy (Leonardo DiCaprio), que coloca a NASA em alerta. O próximo passo é comunicar à presidente dos Estados Unidos (papel de Meryl Streep). Só que a chefe da nação americana tem outros pepinos para resolver e dá um chá de cadeira de sete horas nos cientistas.


O momento é desesperador, já que o cometa é tão grande que vai destruir a Terra - e aí se tem um registro ácido e muito divertido de como as pessoas reagem diante de uma catástrofe.


Estão lá os negacionistas, que não acreditam no iminente desastre; os jornalistas (nas figuras patéticas de Cate Blanchett e Tyler Perry) que fazem piadinhas sobre o assunto; a cantora (Ariana Grande) que se aproveita para se promover... Chegam as fake news, a caça pelos cliques em vídeos no YouTube e o circo midiático preparado pela presidente para "atacar" o inimigo e tentar, assim, ganhar as eleições legislativas.


Não sei quando McKay escreveu o roteiro, mas, coincidência ou não, troque o cometa pela pandemia do coronavírus e você verá os mesmos tipos despreparados e oportunistas lidando com um assunto muito sério. Salvam-se dessa lixeira humana apenas os dois cientistas incorruptíveis, um sinal de que o mundo está nas mãos de quem detém o conhecimento. Gosto demais do desfecho que, sem spoiler, é uma conclusão sem concessões.


O elenco, como um todo, está espetacular - ainda tem Mark Rylance, Ron Perlman, Himesh Patel e Timothée Chalamet. É pena que ninguém esteja cotado para o Oscar. Espero, ao menos, que o filme pegue indicação na categoria principal.





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