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O Canto Livre de Nara Leão: sempre à frente de seu tempo


Nara Leão na praia de Copacabana, em 1958 (foto: divulgação Globoplay)


Sempre admirei Nara Leão mais por seu comportamento do que como cantora. Se a compararmos com Elis Regina, Maria Bethânia ou Gal Costa, tinha uma voz sem potência. E a própria admite que não era uma grande cantora na espetacular série documental O Canto Livre de Nara Leão, disponível no Globoplay.


Renato Terra dirigiu com Ricardo Calil os documentários Uma Noite em 67 (sobre o festival de música da Record) e Narciso em Férias (a respeito da prisão de Caetano Veloso na época da ditatura). Ou seja: é um realizador que tem experiência no assunto. E isso se nota no farto material de arquivo escolhido e na seleção de entrevistados.


Nara surgiu como musa da Bossa Nova ao lado de Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Mas ela não queria ser apenas conhecida como a mocinha elitista de joelhos bonitos (morava num apartamento de frente para a praia de Copacabana) e, na primeira oportunidade, fez uma estratégica retirada do movimento bossa-novista para buscar novos sons, seja o samba dos morros (com Zé Keti, Nelson Cavaquinho e Cartola), seja nas canções políticas de Opinião, o espetáculo que espetava a ditadura.


Nara surpreendia a cada disco: gravou Chico (no fenomenal sucesso de A Banda) flertou com o Tropicalismo e, para espanto dos bossa-novistas, fez um álbum com canções de Roberto e Erasmo. Nara sempre estava em busca da renovação e novos compositores (como Fagner) - e foi assim até sua morte, em 1989, aos 47 anos.


Há muitas entrevistas da cantora e, para mostrar sua importância na MBP, Terra convidou a fina flor da música brasileira: Chico, Caetano, Bethânia, Carlos Lyra, Menescal, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Sérgio Ricardo, além da amiga Marieta Severo, do onipresente jornalista musical Nelsinho Motta e do ex-marido, o cineasta Cacá Diegues, com que teve Francisco e Isabel Diegues.


Me surpreendi várias vezes nos cinco episódios da série. Embora goste muito de MPB, desconhecia o eclético repertório de Nara, assim como suas atitudes feministas e liberais. "Oficialmente", ela teve romances com Menescal, Bôscoli e Ruy Guerra e, segundo Bethânia, era muito namoradeira. Nara cantava o que queria, peitou o regime militar e não media as palavras. Era autêntica e à frente de seu tempo. É muito bom que a série faça esse resgate.




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