20 Dias em Mariupol: o desespero de pais e filhos
Eu vejo tantos documentários ótimos nas plataformas de streaming, mas parece que o Oscar só fica de olho nos filmes exibidos em festivais. Nesta quinta, chegam aos cinemas dois indicados ao prêmio: 20 Dias em Mariupol, exibido no Festival de Sundance, e As 4 Filhas de Olfa, vindo de Cannes. Só um deles merece estar na lista dos concorrentes.
As 4 Filhas de Olfa tem uma história impactante, mas uma realização que peca por querer ser "original". A tunisiana Olfa é mãe de quatro moças, mas só duas delas aparecem no filme. O que terá ocorrido com as outras duas?
Pensando estar inventando algo novo no cinema, a diretora Kaouther Ben Hania coloca atrizes nos lugares da mãe e das irmãs ausentes. A realização é uma mistura de ensaios com depoimentos reais (os melhores) e com cenas dramatizadas. Além de artificial, momentos sérios e dramáticos carecem de emoção. É uma pena porque a vida real de Olfa renderia um documentário comovente.
20 Dias em Mariupol é melhor, mas, na minha opinião, não é cinema. Explico: o filme é todinho feito de imagens captadas por um repórter de guerra em Mariupol, desde o primeiro dia em que a cidade ucraniana foi invadida pelos russos. Ou seja: está mais para uma grande reportagem.
Como explica o título, o jornalista ficou vinte dias cobrindo os horrores da guerra e você verá tudo detalhadamente, inclusive com a narração em primeira pessoa do próprio Mstyslav Chernov, que assina o roteiro e a direção - e deve levar o Oscar.
Fazia tempo que eu não ficava tão chocado com imagens reais. Prepare-se: há bebês e adolescentes mortos, grávidas saindo de uma maternidade em ruínas, cidadãos perdendo suas casas bombardeadas. E a câmera captando os momentos dolorosos pelos quais os sobreviventes passaram (e ainda passam). É de uma tristeza e um ódio (de Putin) profundos, mas de uma realidade nua e crua que precisa vir à tona.
As 4 Filhas de Olfa
20 Dias em Mariupol
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